Acerca de mim

A minha foto
" O contador de histórias é aquele que carrega o encanto das histórias em pó na sua memória para depois polvilhar com a voz e temperar a emoção em quem abre o coração para escutar" Kika Freyre

Mil Estórias para encantar

Mil Estórias para encantar

segunda-feira, 18 de abril de 2011


Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,e o que nos ficou não chegapara afastar o frio de quatro paredes.Gastámos tudo menos o silêncio.Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,gastámos as mãos à força de as apertarmos,gastámos o relógio e as pedras das esquinasem esperas inúteis.Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;era como se todas as coisas fossem minhas:quanto mais te dava mais tinha para te dar.Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.E eu acreditava.Acreditava,porque ao teu ladotodas as coisas eram possíveis.Mas isso era no tempo dos segredos,era no tempo em que o teu corpo era um aquário,era no tempo em que os meus olhoseram realmente peixes verdes.Hoje são apenas os meus olhos.É pouco mas é verdade,uns olhos como todos os outros.Já gastámos as palavras.Quando agora digo: meu amor,já não se passa absolutamente nada.E no entanto, antes das palavras gastas,tenho a certezade que todas as coisas estremeciamsó de murmurar o teu nomeno silêncio do meu coração.Não temos já nada para dar.Dentro de tinão há nada que me peça água.O passado é inútil como um trapo.E já te disse: as palavras estão gastas.Adeus.



Eugénio de Andrade



Não me canso de ler este poema de Eugénio.


Esta foto de Eugéni de Andrade foi tirada pelo meu amigo Eduardo Gageiro que tive o prazer de conhecer em Agosto do ano passado a quando uma exposição sua realizada na Biblioteca Municipal Miguel Torga de Arganil.

Grande Senhor!!

Perdia me so de o ouvir...

2 comentários:

  1. A primeira vez que tomei conhecimento deste poema foi num encontro de poesia quando foi lido em voz alta. Comecei a ouvir as palavras e pensei que tivesse sido escrito para mim naquela mesma altura. Talvez tenha sido escolhido de propósito por essa pessoa mas se tivesse um buraco tinha-me enfiado nele de tão mal que me caíram essas palavras. Anos mais tarde usei este mesmo poema para retribuir o "jeitinho" a essa mesma pessoa.

    Gosto do teu blogue :)!

    Beijo!

    SM

    ResponderEliminar
  2. Este poema é de facto muito intenso.
    Obrigado amigo Minhós.
    Beijinhos.

    ResponderEliminar